Acolhido pelo Instituto Mesoamericano de Permacultura (Imap), fiz, nas últimas três semanas, minha iniciação na agroecologia e no trabalho voluntário.
Uma das tarefas consistiu em registrar, para futura catalogação, parte da gigantesca diversidade florística do Imap, - situado na inesquecível comunidade rural guatemalteca de Pachitutul.
Abaixo seguem algumas destas belezuras mesoamericanas, escolhidas entre mais de cem espécies que fotografei por lá - e dedicadas, aliás, a uma flor ainda mais bonita que atende pelo nome de Nanda Barreto.
Um antigo deus Maia apropriado pelo catolicismo não oficial, num destes sincretismos tortos da colonização.
Um “cara,” enfim, que aceita como oferenda dinheiro, cigarros e birita da boa.
Pois ele existe, é cultuado na Guatemala e atende por dois nomes: San Simon ou Maximon.
Tudo bem que eu chegasse à confraria de Santiago la Laguna e o culto se passasse nos fundos de uma serralheria trabalhando à toda.
Ou visse um cidadão, ajoelhado, ofertando dois litros de coca-cola após acender uma vela.
Imagino que o santo já estivesse satisfeito, porque não era meio-dia e consegui divisar atrás da cadeira dele uma cartela de tabaco Domingo Rojo, oito garrafas de rum e aguardente e 12 maços de cigarro das mais variadas marcas.
Cigarros, aliás, mantidos permanentemente acesos na boca do santo por zelosos confrades, - e a quem é dado o direito de repartir os regalos em reconhecimento aos valiosos serviços prestados ao recato e bem-estar do altíssimo.
Padroeiro dos borrachos?
Símbolo de resistência cultural?
Coisa para turistas e loucos?
Fé?
Ou tudo isso junto misturado?
Na dúvida, deposito 5 quetzales no altar.
E lamento não ter uma boa salineira, lá de Minas, que era pra cair logo nas graças de sua santidade.
Esta casinha foi um achado, - e lar feliz em San Marcos la Laguna durante uma semana.
Ainda mais que pertinho estava a casa de dona Maria, onde cinco tortillas ou uma concha de feijão pra levar saem por 1 quetzal: ou algo como R$ 0,20.
A diária saiu por cem quetzales (R$ 20), incluindo varanda, vista para o lago e estrutura com área de serviço, cozinha e geladeira.
Se animar, pergunte pela Hospedaje Panabaj, atrás do Instituto Misto de Educação por Cooperativa - seu Lucas também estará oferecendo quartos por R$ 6,50, se você preferir.
Ela aparece, de súbito, ao general Arquejano Balastros, ex-tenente-coronel da primeira brigada de infantaria, inspetor, instrutor e interruptor das Forças Patrióticas de Segurança (FPS), marido fiel e firme, amante disciplinado e correto, pai rigoroso e moral, estudioso das letras militares e contra-revolucionárias.
Ela aparece, assim de repente, com colares de rubis quais bananas, o corpo miúdo reunido em algodão cru e fita amarela, olhos de sol em renda de milho, vermelho ponteado nas sobrancelhas enquanto ele avalia o lucro do massacre:
- Você me precisa para se salvar -, ela diz.
E mal desaparece enquanto a ele é preciso precisar o pouso dos mortos, a devida eliminação dos templos e símbolos que não os seus, o desmonte do acampamento e a contabilização do saque, o pagamento aos traidores, a dúvida slienciosa de quando ele lembra da filha e do que esperam dele além-mar.