Um antigo deus Maia apropriado pelo catolicismo não oficial, num destes sincretismos tortos da colonização.
Um “cara,” enfim, que aceita como oferenda dinheiro, cigarros e birita da boa.
Pois ele existe, é cultuado na Guatemala e atende por dois nomes: San Simon ou Maximon.
Tudo bem que eu chegasse à confraria de Santiago la Laguna e o culto se passasse nos fundos de uma serralheria trabalhando à toda.
Ou visse um cidadão, ajoelhado, ofertando dois litros de coca-cola após acender uma vela.
Imagino que o santo já estivesse satisfeito, porque não era meio-dia e consegui divisar atrás da cadeira dele uma cartela de tabaco Domingo Rojo, oito garrafas de rum e aguardente e 12 maços de cigarro das mais variadas marcas.
Cigarros, aliás, mantidos permanentemente acesos na boca do santo por zelosos confrades, - e a quem é dado o direito de repartir os regalos em reconhecimento aos valiosos serviços prestados ao recato e bem-estar do altíssimo.
Padroeiro dos borrachos?
Símbolo de resistência cultural?
Coisa para turistas e loucos?
Fé?
Ou tudo isso junto misturado?
Na dúvida, deposito 5 quetzales no altar.
E lamento não ter uma boa salineira, lá de Minas, que era pra cair logo nas graças de sua santidade.
Esta casinha foi um achado, - e lar feliz em San Marcos la Laguna durante uma semana.
Ainda mais que pertinho estava a casa de dona Maria, onde cinco tortillas ou uma concha de feijão pra levar saem por 1 quetzal: ou algo como R$ 0,20.
A diária saiu por cem quetzales (R$ 20), incluindo varanda, vista para o lago e estrutura com área de serviço, cozinha e geladeira.
Se animar, pergunte pela Hospedaje Panabaj, atrás do Instituto Misto de Educação por Cooperativa - seu Lucas também estará oferecendo quartos por R$ 6,50, se você preferir.
Ela aparece, de súbito, ao general Arquejano Balastros, ex-tenente-coronel da primeira brigada de infantaria, inspetor, instrutor e interruptor das Forças Patrióticas de Segurança (FPS), marido fiel e firme, amante disciplinado e correto, pai rigoroso e moral, estudioso das letras militares e contra-revolucionárias.
Ela aparece, assim de repente, com colares de rubis quais bananas, o corpo miúdo reunido em algodão cru e fita amarela, olhos de sol em renda de milho, vermelho ponteado nas sobrancelhas enquanto ele avalia o lucro do massacre:
- Você me precisa para se salvar -, ela diz.
E mal desaparece enquanto a ele é preciso precisar o pouso dos mortos, a devida eliminação dos templos e símbolos que não os seus, o desmonte do acampamento e a contabilização do saque, o pagamento aos traidores, a dúvida slienciosa de quando ele lembra da filha e do que esperam dele além-mar.