Imagine que seja plausível o seguinte:
Você ter um par de filhos.
E que cada um deles tenha mais dois filhos em outros 33 anos, e assim sucessivamente.
Se você acha isso plausível, é porque aceita a probabilidade de tornar a vida possível para 65.534 pessoas pelos próximos 500 anos: 14 ao fim do primeiro século, outros 112 no seguinte e mais 896 ao fim do terceiro, desdobrando-se em progressão geométrica para 7.168 e então mais 57.344 dois séculos depois.
Agora imagine que seja plausível o seguinte:
Se em 1238 sua tatravó não tivesse encontrado seu Bisa contra a ordem da mãe nos fundos de casa, se em 872 um tatravô criança não voltasse da gripe que bateu de repente, numa noite de chuva, se não fosse a tragédia de outrem que matou um amor para que outro nascesse; se um pai não deixasse, se ela não aceitasse o convite -, mesmo contrariada -, para tomar um café. Se um ou outro fizesse isto e não aquilo, assim como você quando decide a sua vida na margem da dúvida.
Se isso ou algo assim acontecesse, você não estaria aqui.
E você não se lembra deles.
E os que passarão de você também não se lembrarão de você.
Quem aí sabe de sua trisavó, ou pelo menos algo além de uma frase ou duas? Foi cigana. Veio num barco da Itália, mas não sei o nome dela. Parece que era meio louca.
E ainda assim você só pode viver por consequência dela, - e por consequência do que ela e não só ela viveu.
Hoje somos seis bilhões de seres humanos.
Daqui a cem anos quase todos que estamos vivos estaremos mortos, e haverá outras nove bilhões de pessoas.
Logo depois não terão memória alguma de quem fomos nós, do que efetivamente sentimos e sofremos, ou do que você gostaria de dizer na cara deles se tivesse a chance.
Serão homens e mulheres corretos e canalhas, libertários e hipócritas, amigos e traidores, fortes e fracos: 65.534 que só passarão por este mundo porque em algum dia houve você e o seu caminho.
A vida não parece implausível?
Um comentário:
não. a vida me parece muito plausível. e as gerações futuras dependem um montão do que fazemos agora, exatamente agora, destas vidas que são as nossas. os índios iroqueses, por exemplo, tomavam todas as suas decisões considerando o impacto que elas teriam nas próximas sete gerações - uns 150 anos depois...
a vida é plausível: muitas palmas e mãos à obra para ela. compromisso com a evolução da humanidade, chico!
bem-te-vi no atitlán.
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