27/05/2011

O código florestal e o colapso da civilização maya

Praça central de Tikal, casa de cem mil pessoas no século IX


Situada no que é hoje o norte da Guatemala, a cidade de Tikal foi, durante séculos, o maior centro cultural e urbano da civilização maya.

Aqui chegaram a viver, na beirada do século IX, mais de cem mil pessoas em uma área construída de 60 km2, ponteada por acrópolis, palácios e templos datados de até 600 anos antes de cristo. Estamos falando de mais de 3 mil estruturas e edificações, numa cidade cujo apogeu se deu entre 250 D.C e 800 D.C.

Aqui os mayas desenvolveram a agricultura, o comércio, a ciência e a astronomia. Adoraram o sol e as estrelas, dominaram a matemática, planejaram cidades e desenvolveram inigualável capacidade de guerra, numa intrincada estrutura de poder baseada também na religião, no controle dos recursos naturais e na cobrança de impostos.

E podia uma civilização assim tão florescente ter um fim catasfrófico, 500 anos antes da chegada dos europeus? Pois sim. Entre os anos de de 830 e 950, todos os habitantes de Tikal simplesmente juntaram suas matulas, abandonaram a cidade e partiram para nunca mais voltar. E é aqui que gostaria de lembrar o Código Florestal.

A principal tese dos arqueólogos para o colapso maya aposta na combinação de pelo menos três fatores: população em expansão operando no limite dos recursos disponíveis, degradação ambiental e ampliação das guerras internas -, todos engatilhados numa só crise a partir de uma seca prolongada que tornou a vida em Tikal literalmente impossível, minando o controle da distribuição de água como fonte de autoridade política para as elites dominantes.

E este é apenas um exemplo. Neste excelente artigo sobre o colapso Maya, publicado na Scientific American Brasil, estão apresentados também indícios de uma drástica redução da umidade que teria levado ao desaparecimento do povo Anasazi, no sudoeste americano, entre 1275 e 1300. A mesma razão teria provocado o colapso do império acadiano da Mesopotâmia, o declínio dos Moche na costa do Peru e o fim da civilização Tiwanaku no altiplano bolívio-peruano há aproximadamente 4200, 1500 e 1000 anos, respectivamente.

Em Tikal, segundo o vencedor do Pulitzer Jaredh Diamond, o colapso é ainda mais emblemático pela adição de outro fator decisivo para a crise: liderança focada em preocupações de curto prazo, sem atenção ao princípio da precaução.

Talvez se soubessem o que os aguardava, tivessem dado mais atenção à relação de interdependência entre suas florestas, solos e águas. Talvez entendessem que era preciso antever estiagens inesperadas e outras mudanças climáticas bruscas (fatos mais que comprovados e recorrentes na história). Talvez ponderassem que a destruição destes recursos significava, antes de tudo, destruir os fatores de sua própria existência enquanto civilização, - a despeito de todos os feitos que lograram.

Não foi o que ocorreu.

E deu no que deu.

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Digo isto, enfim, para recomendar muito, muito mesmo a leitura deste artigo aqui. Foi escrito por meu pai, e ilumina o debate sobre o atual Código Florestal. Tudo bem que sou suspeito para falar, mas é exatamente do nosso futuro -, ou da nossa caminhada civilizatória -, que ele também fala.

Fotos de Tikal







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