10/02/2011

Senegal peladeiro



Mal acreditei quando nossa van e aquelas quatro caminhonetes apinhadas de gente pararam no acostamento.

Afinal a promessa era um jogo de futebol, estávamos no meio da rodovia e dali só se via asfalto, savana e bancos de areia.

Precisei escalar um deles, estupefato, para divisar do outro lado as duas equipes já perfiladas para a decisão.

E foi também a primeira vez que me ocorreu: onde, afinal, está o Nelson Rodrigues quando a gente precisa dele?
 

Na beira do campo é que fui saber que se tratava da final do campeonato de Cab Gaye, região rural que reúne 43 vilarejos de maioria Uollof – a maior entre as sete etnias senegalesas. 

Tudo bem que uma mulher segurasse a trave para o gol não desabar, ou que as bandeirinhas fossem frondosos arbustos. Ou ainda que o jogo tivesse que terminar já no primeiro tempo para uma apressada cobrança de pênaltis, na iminência do pôr-do-sol.

O juiz pelo menos era nosso, e vestia a amarelinha.

Melhor se deu o Saf Saf, que derrubou o vermelho Renasissance nos penais após um hediondo 0 a 0.

Os campeões do Saf Saf, logo após a vitória nos penaltis.
A coisa toda foi narrada por um senhor elegante e distinto num desses amplificadores de guitarra, ligado a uma bateria de carro. 

Que foi devidamente usado por lideres comunitários e religiosos para saudar os campeões, logo antes de levarem pra casa um jogo novo de camisetas e a bagatela de 50 mil francos CFA – ou o equivalente a R$ 150.

Aliás, mal pegaram o troféu e saíram alucinados, cantando e dançando, até se perderem lá longe num banco de areia.

Eu ainda fiquei ali mais um pouco, assombrado, calculando o poder do futebol.


O pôr-do-sol encerra a partida. E a turma troca uma ideia na linha do escanteio
Eu juro que não topava a dividida...
E a bandeirinha da decisão, pra não me deixar mentir

Um comentário:

Betinho disse...

É impressão minha ou o sujeito acima tá jogando de sandália melissa?