Mal acreditei quando nossa van e aquelas quatro caminhonetes apinhadas de gente pararam no acostamento.
Afinal a promessa era um jogo de futebol, estávamos no meio da rodovia e dali só se via asfalto, savana e bancos de areia.
Precisei escalar um deles, estupefato, para divisar do outro lado as duas equipes já perfiladas para a decisão.
E foi também a primeira vez que me ocorreu: onde, afinal, está o Nelson Rodrigues quando a gente precisa dele?
Na beira do campo é que fui saber que se tratava da final do campeonato de Cab Gaye, região rural que reúne 43 vilarejos de maioria Uollof – a maior entre as sete etnias senegalesas.
Tudo bem que uma mulher segurasse a trave para o gol não desabar, ou que as bandeirinhas fossem frondosos arbustos. Ou ainda que o jogo tivesse que terminar já no primeiro tempo para uma apressada cobrança de pênaltis, na iminência do pôr-do-sol.
O juiz pelo menos era nosso, e vestia a amarelinha.
Melhor se deu o Saf Saf, que derrubou o vermelho Renasissance nos penais após um hediondo 0 a 0.
Os campeões do Saf Saf, logo após a vitória nos penaltis. |
Que foi devidamente usado por lideres comunitários e religiosos para saudar os campeões, logo antes de levarem pra casa um jogo novo de camisetas e a bagatela de 50 mil francos CFA – ou o equivalente a R$ 150.
Aliás, mal pegaram o troféu e saíram alucinados, cantando e dançando, até se perderem lá longe num banco de areia.
Eu ainda fiquei ali mais um pouco, assombrado, calculando o poder do futebol.
O pôr-do-sol encerra a partida. E a turma troca uma ideia na linha do escanteio |
Eu juro que não topava a dividida... |
E a bandeirinha da decisão, pra não me deixar mentir |
Um comentário:
É impressão minha ou o sujeito acima tá jogando de sandália melissa?
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